Doutora em Direito e Ciências Sociais e professora titular e convidada em pós-graduação em Direito de Seguros e Responsabilidade Civil nas Universidades de Buenos Aires, Montevideo, Católica do Uruguai, de Externado, na Colômbia, e na Escola da Magistratura de Porto Alegre, a uruguaia Andrea Signorino Barbat está entre as convidadas para o II Congresso Internacional das Comissões de Direito Securitário, que ocorre nos dias 28 e 29, na OAB/SC. Andrea abordará o tema “As Mulheres, o Direito e o Mercado de Seguro”. A palestra será na sexta-feira (29), às 8h30, no auditório da OAB/SC. Em entrevista à assessoria de comunicação da OAB/SC, Andrea Signorino Barbat conta um pouco de sua visão da mulher no mercado de trabalho na América Latina. Leia a seguir:
Assessoria de imprensa da OAB/SC: Qual a relação da mulher no mercado de trabalho?
Andrea Signorino Barbat: A mulher ainda tem muitos entraves para alcançar o "empoderamento" econômico. Há cenários distintos e problemáticos que as impedem de desenvolver-se no mundo laboral: 40% das mulheres estão no cenário do chamado “piso pegajoso”, 72% estão na outra extremidade, são mulheres com “teto de cristal” , e o 58 % estão no meio, no cenário da “escada quebrada”.
Assessoria de imprensa da OAB/SC: Você pode explicar melhor essas classificações?
Andrea Signorino Barbat: São conceitos utilizados nos estudos de desigualdade de gênero. “Piso pegajoso” se refere às mulheres que não podem desapegar, elas estão dependentes ao piso e não podem crescer devido a fatores sócio-econômicos. Teto de cristal são aquelas mulheres que, apesar de ter bom nível de educação e econômico, não progridem na empresas porque não são promovidas ou porque a preferência da empresa para ocupar altos cargos é por homens. “Escada quebrada” são mulheres que têm muitos obstáculos para crescer em seu nível acadêmico e profissional porque têm muitos compromissos familiares ou de outros tipos que a impedem de estudar e conseguir trabalhos adequados.
Assessoria de imprensa da OAB/SC: E quanto ao mercado na área do seguro?
Andrea Signorino Barbat: O mercado de seguro na América Latina é muito masculino. As mulheres não ocupam cargos de direção, mesmo em disciplinas acadêmicas. Existem exceções, no Brasil, por exemplo, há diversas mulheres em cargos importantes, o que não é a regra. Mas, a situação vem mudando lentamente...
Assessoria de imprensa da OAB/SC: Quais os avanços e perspectivas na relação da mulher no mercado de seguro e na vida profissional?
Andrea Signorino Barbat: A realidade é que América Latina está em uma encruzilhada de grande relevância para o empoderamento econômico das mulheres. Após um período de prosperidade, progresso social e consolidação democrática, muitos países estão enfrentando uma desaceleração econômica - e mesmo recessão -, polarização social, desconfiança dos governos e, em certos casos, crises políticas. Fatores externos, como a queda dos preços das commodities, tendências protecionistas e possíveis mudanças nas políticas de migração aumentam esse conjunto.
Neste contexto, colocar o empoderamento econômico das mulheres no centro da agenda pública assume uma importância renovada, principalmente quando o objetivo é construir economias que não sejam apenas mais prósperas e resistentes, mas também mais igualitárias. Mas aqueles que são responsáveis pela formulação de políticas públicas enfrentam um duplo desafio: proteger as conquistas na área da igualdade de gênero diante da desaceleração econômica e continuar a superar os obstáculos persistentes que impedem o empoderamento econômico das mulheres.
Mas o desafio também é para nós, mulheres. As mulheres, em sua vida profissional, necessitam muito de quem "abra a porta". E isso não é ruim, porque é uma ajuda para superar a desigualdade de gênero que é um problema cultural e real. Por isso, entre nós, mulheres, devemos nos ajudar, devemos abrir as portas a outras mulheres e acreditar na importância disso.
Assessoria de imprensa da OAB/SC: Quais são suas expectativas quanto às mudanças?
Andrea Signorino Barbat: A mudança da situação das mulheres em relação ao trabalho será resultado de uma somatória de fatores. É preciso mudar a mentalidade das próprias mulheres, assim como dos homens e da sociedade. Além disso é preciso o apoio das políticas públicas e do setor privado. Minha experiência pessoal mostra ainda que é necessário que as mulheres "abram portas" a outras mulheres para que elas possam superar os obstáculos e alcançar a igualdade de gênero no trabalho, que é um problema cultural na América Latina.
Andrea Signorino Barbat também preside o Comitê Ibero-Latinoamericano e a Seção Uruguaia da Associação Internacional de Direito de Seguros (AIDA).